Considerações sobre o livro “A Ética do Cuidar” de Leonardo Boff
Alunos do 5° Período de Psicologia 2014-1
Para
tratarmos do assunto “Ética do cuidar”, nos baseamos no livro “Saber cuidar:
Ética do Humano – Compaixão pela Terra” de Leonardo Boff , no qual enfatiza o
cuidado com o ser humano e o cuidado com a Terra. O livro foi criado a partir
de uma perspectiva de urgência pelo fato de surgirem sintomas que sinalizam
grandes sinais de devastações no planeta Terra e na humanidade.
A
degradação crescente de nossa casa comum, a Terra, denuncia nossa crise de adolescência.
É importante entrarmos na idade adulta com sabedoria e conscientizados para que
seja garantido um futuro promissor, pelo fato de o sintoma mais doloroso já
constatado há décadas por analistas e pensadores contemporâneos ser o difuso
mal estar da civilização que vem aparecendo sob o fenômeno do descuido, o
descaso e do abandono, ou seja, da falta de cuidado.
Cuidar
é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de
atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação,
de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. Quando dizemos, por
exemplo: “nós cuidamos de nossa casa” subentendemos múltiplos atos como: preocupamo-nos
com as pessoas que nela habitam dando-lhes atenção, lhes garantindo as
provisões e interessando-nos com o seu bem-estar. Zelamos pelas relações de
amizade com os vizinhos, ocupamo-nos do gato, cachorro, peixe e dos pássaros
que povoam nossas árvores. Tudo isso pertence à atitude do cuidado material,
social, pessoal, ecológico e espiritual. Se não receber cuidado desde o
nascimento até a morte, o ser humano desestrutura-se, perde sentido e morre.
Se, ao longo da vida, não fizer com cuidado tudo o que empreender, acabará por
prejudicar a si mesmo e por destruir o que estiver à sua volta. Colocar cuidado
em tudo o que projeta e faz, eis a característica singular do ser humano.
Boff
lança mão de uma fábula-mito sobre o
cuidado para ilustrar o tema:
“Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um
pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco do barro e
começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu
Júpiter. Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom
grado. Quando, porém, Cuidado quis dar nome à criatura que havia moldado,
Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome. Enquanto Júpiter e
Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu
nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra.
Originou-se então uma discussão generalizada. De comum acordo pediram a Saturno
que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:
Você , Júpiter, deu-lhe o espírito;
receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa
criatura. Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu
corpo quando essa criatura morrer. Mas como você, Cuidado, foi quem, por
primeiro moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver. E uma
vez que entre vocês há acalora discussão acerca do nome, decido eu: esta
criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra
fértil.”
Os
mitos não têm autor. Pertencem à sabedoria comum da humanidade, conservada pelo
inconsciente coletivo sob a forma de grandes símbolos, de arquétipos e de
figuras exemplares. Assim ocorreu com a fábula-mito do cuidado essencial,
também conhecida como “a fábula-mito de Higino”. A partir desta fábula-mito é possível
construir reflexões sobre o cuidado e pode ser vista como a verdadeira essência
do ser humano.
Tudo
isso nos faz pensar que não somos seres unicamente terrestres, já que o
universo, as galáxias e as estrelas surgiram muito antes do nosso planeta, o
qual é apenas um grão no meio da vastidão do cosmos. Somos todos filhos de um
Espírito Cósmico, onde o Universo e a Terra, no final, é uma coisa só.
O
autor, baseado na filosofia de Heidegger, mostra que cuidado é um modo de – ser
– no mundo, que funda as relações que se estabelece com todas as coisas, esse
modo significa uma forma de ex-istir e co-existir com o mundo, nesse processo o
ser humano vai construindo o seu propicio ser.
Divide-se
em dois, esse modo de ser no mundo: trabalho e cuidado. Trabalho se dá na forma
de interação e intervenção. O ser humano adapta o meio ao seu desejo. Uma
postura de dominação sobre as coisas para servir seus interesses. Enquanto no cuidado
a relação é sujeito-sujeito, não de domínio, mas, de convivência, de
intimidade, de acolhimento. O grande desafio para o ser humano é combinar
ambos, não são contrários um ao outro mais se compõe. Nossa civilização precisa
superar a ditadura do modo de Ser no trabalho que mantém reféns de uma lógica
que se mostra destrutiva e passar a colocar cuidado em tudo, conceder direito à
nossa capacidade de sentir o outro, de ter compaixão com todos os seres que
sofrem.
As
ressonâncias do cuidado essencial são o amor, a justa medida, a ternura, a
carícia, a cordialidade, a convivialidade e a compaixão que garantem a
humanidade dos seres humanos. Através desses modos-de-ser, os humanos
continuamente realizam sua autopoiese, vale dizer, sua autoconstrução histórica
simultaneamente constroem a Terra e preservam as tribos da Terra com suas
culturas, seus valores, seus sonhos e suas tradições espirituais.
Atualmente quase todas as sociedades estão
enfermas. Produzem má qualidade de vida para todos e não se trata somente de
impor limites ao crescimento, mas de mudar o tipo de desenvolvimento.
Diz-se
que o novo desenvolvimento social visa melhorar a qualidade de vida humana
enquanto humana. Nada agride mais o modo-de-ser-cuidado que a crueldade para
com os próprios semelhantes.
O
cuidado não é uma meta a se atingir no final da caminhada apenas. É um
principio que acompanha o ser humano em cada momento, em cada passo, ao largo
de toda vida terrenal, como bem sentenciou Saturno na fábula-mito de Higino.
Assim
como negar a existência de uma doença, de forma semelhante, a pior aberração do
cuidado é sua negação. Deparamos com a reclusão do ser humano sobre seu próprio
horizonte que, quando nega a essência de ser-cuidado, se torna atroz consigo
mesmo. O resultado disso é um processo de desumanização e de embrutecimento das
relações
.
Existem
as pessoas que tem cuidado em demasia, ou seja, em excesso. A pessoa é obsessiva
por cuidado, ela quer cuidar de tudo e de todos, é tanto cuidado que a pessoa
perde sua espontaneidade e ficam embaraçadas e sem energia pelo fato de se
desgastarem muito em fazer sua experiência do cuidado, entre erros e acertos. O
excesso de cuidado consigo mesmo gera um perfeccionismo imobilizador, porque a
pessoa não conclui nada que começa e dessa forma perde muitas oportunidades de
crescimento.
Há
também os que têm cuidado de menos. Não estão inteiramente nas coisas que
fazem, seja por perderem seu núcleo assumindo coisas em demasia, seja por
colocarem muito pouco empenho no que fazem. As coisas aparecem de qualquer
jeito, mal feitas, largadas, confusas, ou seja, descuidadas. Dessa forma a
pessoa perde o foco e se irrita, perdendo a serenidade.
O
cuidado não convive nem com a carência nem com o excesso. Ele é o ponto de equilíbrio
ideal entre um e outro.
Figuras
exemplares de cuidados podem ser notadas de maneira privilegiada no modo-de-ser
das mães, avós, educadoras, educadores, enfermeiras e tantas outras pessoas que
se desvelam no cuidado de alguém. Além disso, outras figuras relevantes em seus
exemplos citam-se: JESUS, FRANCISCO DE ASSIS, MADRE TEREZA DE CALCUTÁ, IRMÃO
ANTÔNIO, MAHATMA GANDHI, OLENKA E TÂNIA E JOSÉ DA TRINO.
Em
suma, a categoria cuidado se mostrou chave decifradora da essência humana. O
ser humano possui transcendência e por isso viola todos os tabus, ultrapassa
todas as barreiras e se contenta apenas com o infinito. Sem o cuidado que
resgata a dignidade da humanidade condenada à exclusão, não se inagurará um
novo paradigma de convivência . O cuidado vive do amor primal, da ternura, da
carícia, da compaixão, da convivialidade, da medida justa em todas as coisas.
Que
o cuidado aflore em todos os âmbitos, que penetre na atmosfera humana e que
prevaleça em todas as relações.
“Para nós, estagiários, foi importante tomar consciência da responsabilidade que temos,aprender a importância de acolher o outro no seu sofrimento e na sua angústia . A partir disto, fizemos um vídeo para expressar nossa ideia sobre a “ética do cuidar”.
“Para nós, estagiários, foi importante tomar consciência da responsabilidade que temos,aprender a importância de acolher o outro no seu sofrimento e na sua angústia . A partir disto, fizemos um vídeo para expressar nossa ideia sobre a “ética do cuidar”.
Referência Bibliográfica:
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: Ética do humano - compaixão pela Terra. Petrópolis, RJ: Vozes,1999.
ALUNOS:
Débora Nunes, Diankelle Faria, Glacy Kelly Morais, Irismar Proença, Jéssica Aparecida, Josilene Vaz, Letícia Martins, Letícia Pereira, Lilian Galvão Netto, Lorena Jaqueline Flores Cunha de Vasconcelos. Ludimila Luana, Patrícia Mariano, Rebeca Soares, Renato Lemes, Salete Garcia Alonso, Shelyn Prado, Tchussa Oliveira, Thais Mendes, Tiago Bruneto, Vagner Junior.