segunda-feira, 12 de maio de 2014

Considerações sobre o livro “A Ética do Cuidar” de Leonardo Boff


Alunos do 5° Período de Psicologia 2014-1


Para tratarmos do assunto “Ética do cuidar”, nos baseamos no livro “Saber cuidar: Ética do Humano – Compaixão pela Terra” de Leonardo Boff , no qual enfatiza o cuidado com o ser humano e o cuidado com a Terra. O livro foi criado a partir de uma perspectiva de urgência pelo fato de surgirem sintomas que sinalizam grandes sinais de devastações no planeta Terra e na humanidade.

A degradação crescente de nossa casa comum, a Terra, denuncia nossa crise de adolescência. É importante entrarmos na idade adulta com sabedoria e conscientizados para que seja garantido um futuro promissor, pelo fato de o sintoma mais doloroso já constatado há décadas por analistas e pensadores contemporâneos ser o difuso mal estar da civilização que vem aparecendo sob o fenômeno do descuido, o descaso e do abandono, ou seja, da falta de cuidado.

Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. Quando dizemos, por exemplo: “nós cuidamos de nossa casa” subentendemos múltiplos atos como: preocupamo-nos com as pessoas que nela habitam dando-lhes atenção, lhes garantindo as provisões e interessando-nos com o seu bem-estar. Zelamos pelas relações de amizade com os vizinhos, ocupamo-nos do gato, cachorro, peixe e dos pássaros que povoam nossas árvores. Tudo isso pertence à atitude do cuidado material, social, pessoal, ecológico e espiritual. Se não receber cuidado desde o nascimento até a morte, o ser humano desestrutura-se, perde sentido e morre. Se, ao longo da vida, não fizer com cuidado tudo o que empreender, acabará por prejudicar a si mesmo e por destruir o que estiver à sua volta. Colocar cuidado em tudo o que projeta e faz, eis a característica singular do ser humano.

Boff  lança mão de uma fábula-mito sobre o cuidado para ilustrar o tema:
“Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco do barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter. Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado. Quando, porém, Cuidado quis dar nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome. Enquanto Júpiter e Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada. De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa: Você , Júpiter, deu-lhe o espírito;  receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura. Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer. Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver. E uma vez que entre vocês há acalora discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil.”

Os mitos não têm autor. Pertencem à sabedoria comum da humanidade, conservada pelo inconsciente coletivo sob a forma de grandes símbolos, de arquétipos e de figuras exemplares. Assim ocorreu com a fábula-mito do cuidado essencial, também conhecida como “a fábula-mito de Higino”. A partir desta fábula-mito é possível construir reflexões sobre o cuidado e pode ser vista como a verdadeira essência do ser humano.

Tudo isso nos faz pensar que não somos seres unicamente terrestres, já que o universo, as galáxias e as estrelas surgiram muito antes do nosso planeta, o qual é apenas um grão no meio da vastidão do cosmos. Somos todos filhos de um Espírito Cósmico, onde o Universo e a Terra, no final, é uma coisa só.

O autor, baseado na filosofia de Heidegger, mostra que cuidado é um modo de – ser – no mundo, que funda as relações que se estabelece com todas as coisas, esse modo significa uma forma de ex-istir e co-existir com o mundo, nesse processo o ser humano vai construindo o seu propicio ser.

Divide-se em dois, esse modo de ser no mundo: trabalho e cuidado. Trabalho se dá na forma de interação e intervenção. O ser humano adapta o meio ao seu desejo. Uma postura de dominação sobre as coisas para servir seus interesses. Enquanto no cuidado a relação é sujeito-sujeito, não de domínio, mas, de convivência, de intimidade, de acolhimento. O grande desafio para o ser humano é combinar ambos, não são contrários um ao outro mais se compõe. Nossa civilização precisa superar a ditadura do modo de Ser no trabalho que mantém reféns de uma lógica que se mostra destrutiva e passar a colocar cuidado em tudo, conceder direito à nossa capacidade de sentir o outro, de ter compaixão com todos os seres que sofrem.

As ressonâncias do cuidado essencial são o amor, a justa medida, a ternura, a carícia, a cordialidade, a convivialidade e a compaixão que garantem a humanidade dos seres humanos. Através desses modos-de-ser, os humanos continuamente realizam sua autopoiese, vale dizer, sua autoconstrução histórica simultaneamente constroem a Terra e preservam as tribos da Terra com suas culturas, seus valores, seus sonhos e suas tradições espirituais.

 Atualmente quase todas as sociedades estão enfermas. Produzem má qualidade de vida para todos e não se trata somente de impor limites ao crescimento, mas de mudar o tipo de desenvolvimento.
Diz-se que o novo desenvolvimento social visa melhorar a qualidade de vida humana enquanto humana. Nada agride mais o modo-de-ser-cuidado que a crueldade para com os próprios semelhantes.

O cuidado não é uma meta a se atingir no final da caminhada apenas. É um principio que acompanha o ser humano em cada momento, em cada passo, ao largo de toda vida terrenal, como bem sentenciou Saturno na fábula-mito de Higino.

Assim como negar a existência de uma doença, de forma semelhante, a pior aberração do cuidado é sua negação. Deparamos com a reclusão do ser humano sobre seu próprio horizonte que, quando nega a essência de ser-cuidado, se torna atroz consigo mesmo. O resultado disso é um processo de desumanização e de embrutecimento das relações
.
Existem as pessoas que tem cuidado em demasia, ou seja, em excesso. A pessoa é obsessiva por cuidado, ela quer cuidar de tudo e de todos, é tanto cuidado que a pessoa perde sua espontaneidade e ficam embaraçadas e sem energia pelo fato de se desgastarem muito em fazer sua experiência do cuidado, entre erros e acertos. O excesso de cuidado consigo mesmo gera um perfeccionismo imobilizador, porque a pessoa não conclui nada que começa e dessa forma perde muitas oportunidades de crescimento.

Há também os que têm cuidado de menos. Não estão inteiramente nas coisas que fazem, seja por perderem seu núcleo assumindo coisas em demasia, seja por colocarem muito pouco empenho no que fazem. As coisas aparecem de qualquer jeito, mal feitas, largadas, confusas, ou seja, descuidadas. Dessa forma a pessoa perde o foco e se irrita, perdendo a serenidade.
O cuidado não convive nem com a carência nem com o excesso. Ele é o ponto de equilíbrio ideal entre um e outro.
Figuras exemplares de cuidados podem ser notadas de maneira privilegiada no modo-de-ser das mães, avós, educadoras, educadores, enfermeiras e tantas outras pessoas que se desvelam no cuidado de alguém. Além disso, outras figuras relevantes em seus exemplos citam-se: JESUS, FRANCISCO DE ASSIS, MADRE TEREZA DE CALCUTÁ, IRMÃO ANTÔNIO, MAHATMA GANDHI, OLENKA E TÂNIA E JOSÉ DA TRINO.

Em suma, a categoria cuidado se mostrou chave decifradora da essência humana. O ser humano possui transcendência e por isso viola todos os tabus, ultrapassa todas as barreiras e se contenta apenas com o infinito. Sem o cuidado que resgata a dignidade da humanidade condenada à exclusão, não se inagurará um novo paradigma de convivência . O cuidado vive do amor primal, da ternura, da carícia, da compaixão, da convivialidade, da medida justa em todas as coisas.
Que o cuidado aflore em todos os âmbitos, que penetre na atmosfera humana e que prevaleça em todas as relações.

“Para nós, estagiários, foi importante tomar consciência da responsabilidade que temos,aprender a importância de acolher o outro no seu sofrimento e na sua angústia . A partir disto, fizemos um vídeo para expressar nossa ideia sobre a “ética do cuidar”.


Referência Bibliográfica:
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: Ética do humano - compaixão pela Terra. Petrópolis, RJ: Vozes,1999.






ALUNOS:
Débora Nunes, Diankelle Faria, Glacy Kelly Morais, Irismar Proença, Jéssica Aparecida, Josilene Vaz, Letícia Martins, Letícia Pereira, Lilian Galvão Netto, Lorena Jaqueline Flores Cunha de Vasconcelos. Ludimila Luana, Patrícia Mariano, Rebeca Soares, Renato Lemes, Salete Garcia Alonso, Shelyn Prado, Tchussa Oliveira, Thais Mendes, Tiago Bruneto, Vagner Junior.