Autores: Ana Gabriela Oliveira, Andressa Duarte, Fernanda Georgino, Jeanne Cruvinel, Kéllen de Oliveira e Marcos Paulo Gil.
Como se dá a ética no acompanhamento terapêutico?
O termo “ética” deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa). Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de justiça social.
A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos.
Entende-se por Acompanhamento Terapêutico um modelo de intervenção clínica, que se dá no cotidiano, envolvendo a dupla Acompanhante Terapêutico e Acompanhado. Tradicionalmente destinado a sujeitos que estejam numa condição de sofrimento psíquico que transcenda o problema orgânico em si, caracterizando um isolamento social que necessite de intervenção e acompanhamento, visando auxiliar o acompanhado na reconstrução das relações sociais e afetivas, na retomada dos laços sociais. (BARRETO ,2001).
A palavra acompanhar tem origem no latim e traz por significado comer do mesmo pão. Desta forma, acompanhar é mais que estar junto, é compreensão mútua e afinidade também. E isso por um tempo maior pode gerar uma ligação bastante intensa. E se essa ligação entre acompanhante e acompanhado evolui, alcançando uma mútua representação, afetiva e de aprendizado, transforma-se em algo muito valioso. Assim, os elementos que estavam presentes de modo mais evidente, que foram os motivadores a se designar um acompanhante terapêutico, deixam de ser o principal ponto através do qual o outro é visto e compreendido, ampliando assim o olhar e a ligação com o outro. E a força desta relação baseia-se em amizade. (Idem p. 167-170).
O mesmo autor propõe que as bases no tratamento AT seja uma combinação das funções de Holding, Manejo e Placement, propostas por Winnicott. (1983, apud Barreto , 2001).
Para Winnicott (1983, apud Barreto 2001), a sustentação, ou holding, protege contra a afronta fisiológica. O holding deve levar em consideração a sensibilidade epidérmica da criança – tato, temperatura, sensibilidade auditiva, sensibilidade visual, sensibilidade às quedas – assim como o fato de que a criança desconhece a existência de tudo o que não seja ela própria. Inclui toda a rotina de cuidados ao longo do dia e da noite. A sustentação compreende, em especial, o fato físico de sustentar a criança nos braços, e que constitui uma forma de amar. A mãe funciona como um ego auxiliar.
O holding é o que protege da psicose. Winnicott considera que a psicose não é fruto de forças pulsionais, mas fruto de um holding insuficiente e, com isso, o sujeito cai num não ser; ele não consegue unir uma experiência de unidade de si mesmo, um eu sou, não consegue ser um sendo no tempo sem cotidiano.
O Manejo consiste no fornecimento de um ambiente adequado, no contexto e fora dele, que faltou ao paciente em seu processo de desenvolvimento, sem o qual só lhe resta existir em termos da utilização reativa de mecanismos de defesa e de potencialidades do id. O Placement passou a ser reconhecido como uma modalidade clínica, mediante a qual o indivíduo é retirado de determinado lugar e colocado em outro, com uma provisão ambiental mais adequada as suas necessidades.
O acompanhante terapêutico lança mão das três funções em seu trabalho, porém no lugar de alguém que se coloca lado a lado de seu acompanhado.
“Assim, poderá, em um determinado período ou com um determinado paciente, exercer funções que tenham a ver com a maternagem e a paternagem e, em outros momentos, com a amizade”. (BARRETO 2001, p.196).
Deste modo podemos compreender que o acompanhante terapêutico por vezes se posicionará com cuidados, outras, com limites, mas, na maioria do tempo se posicionará como num contexto de irmandade, o que por sua vez proporcionará uma relação amigável. O diferencial no acompanhamento terapêutico é o acolhimento, a escuta e o cuidado. O trabalho do acompanhante terapêutico está determinado por uma postura ética o tempo todo.
A Ética está em o acompanhante terapêutico não permitir que a relação amigável com seu Acompanhado perca o foco do tratamento, esperando algo em troca do seu paciente, pois sabemos que a relação de amizade é uma relação não delimitada e simétrica, o que não pode ocorrer na relação de um Acompanhamento Terapêutico. Deve-se, sim, ter um clima amistoso, mas com a consciência e preparação que só o AT poderá conduzir.
Referência Bibliográfica:
BARRETO, Kleber Duarte. Ética e técnica no acompanhamento terapêutico: andanças com Dom Quixote e Sancho Pança. São Paulo: Unimarco, 2001.
O vídeo a seguir mostra uma entrevista com a Psicóloga e Acompanhante Terapêutica Mariana de Silvério Arantes, da http://www.trilhasat.com.br. A quem gentilmente agradecemos o apoio ao nosso projeto interdisciplinar.
Alunos do 5º Período de Psicologia 2/2015